A intenção do “trocadilho” com a palavra “provas” no título do texto foi proposital, por mais que não tenha sido muito bem. Mas também não era muito bom ter que ser avaliada apenas por um momento de pressão, tensão, e silêncio quase constrangedor.

Lembro que provas sempre foram muito difíceis pra mim, por conta da ansiedade, do tempo limitado, de como eu tinha que ficar parada para não confundirem com cola. Me identifiquei com pedagogia ao saber que o problema não era eu, eu não era burra por ter ficado de prova final todos os anos, em geografia.

Mas mais uma coisa curiosa sobre pedagogia… na faculdade, um dia fiz uma prova sobre como provas não são totalmente eficazes. Irônico, né? Mas talvez você, professor, educador, já tenha feito algo contraditório ao que estudou e acredita., porque temos regras à seguir.

Por isso vim conversar com vocês, e assim, vocês podem estender esse debate à sua coordenação e alunos, afinal, eles podem, e devem, ser participantes ativos da sua aprendizagem, e contar suas respectivas experiências.

Não tem problema se para muitos faz sentido ser avaliado por provas mensais, apenas, mas temos que contar que esse não é o único método, nem é perfeito, ou com maior eficácia. Só vai ser eficaz a partir do momento que o indivíduo se sentir confortável.

Tipos de avaliação:

Provas – em tempos de isolamento a maior dúvida foi como ficariam as provas, visto que os alunos poderiam facilmente pesquisar as respostas, e isso me causa certa dúvida se o que fazemos é isolar os alunos de todo conhecimento e mantê-los com medo e refém de notas e do professor. Provas são espaços para que o aluno mostre, através do que o professor selecionou como importante, o que aprendeu. As vezes ele realmente não aprendeu, mas isso não reflete uma culpa total desse aluno.

Seminários – Apresentações, em grupo ou individual, são uma forma de avaliar o aluno a partir da visão dele mesmo. O próprio aluno prepara o material, pesquisa, seleciona, e apresenta da melhor forma, utilizando recursos como cartais ou slides. Mas, como todo método, tem um contra para os alunos mais tímidos. A necessidade de falar em público, e saber que está sendo avaliado, tende à assustar e paralisar muitas pessoas.

Exposições/Feiras – Esse método avaliativo vem junto com a possibilidade de interdisciplinaridade, com experimentos, com criações, e muita criatividade. É uma maneira do aluno ver tudo que aprende de forma prática e podendo ser utilizada no dia a dia, nas profissões, etc.

Relatórios – Para muitos os resumos são uma forma de estudar, e não estão errados. Escrever com suas palavras, como diz muitas questões de prova, é uma forma de mostrar como você relacionou aquele determinado assunto da disciplina. E isso não deve ser avaliado, não cada palavra, mas o conceito geral, a forma como se expressa. Isso também serve como feedback para os próprios professores. Mas para matérias de exatas isso fica um pouco mais complicado de expressar.

Atividades em sala de aula – O principal de todas as avaliações é isso, o acompanhamento em sala de aula, todo o processo do aluno, não só um momento isolado que deve ser avaliativo. Para isso é necessária a participação ativa dos alunos no decorrer das matérias, é necessário incluir jogos, aulas expositivas, passeios, tudo que conecte o aluno ao que ele está sendo ensinado. Ele deve ver o que aprende fora das folhas de papel e das 4 paredes da sala de aula, se não continuaremos a ouvir “para que eu estudo isso? nunca mais vou ver na vida” e parar de responder “você precisa estudar porque cai na prova”.

Debates – É de extrema importância levar certos assuntos para sala de aula, por mais que pareça que não é nossa função, ou que não esteja no conteúdo programático, no plano de aula, mas se o professor identificar um assunto pertinente, próximo ou não, é necessário conversar com os alunos e ouvi-los. Isso pode evitar muitos problemas, além de formar o caráter crítico, e ajudar na prática de solução de problemas e inserção na sociedade.

Avaliação e Paulo Freire:

O que importa, na formação docente, não é a repetição mecânica do gesto, este ou aquele, mas a compreensão do valor dos sentimentos, das emoções, do desejo, da insegurança a ser superada pela segurança, do medo que, ao ser educado, vai gerando a coragem”. (Paulo Freire). Um professor consciente disso ele media a aprendizagem, ajuda a formar conceitos, desperta e incentiva as potencialidades de seus alunos e contribui para formação de um cidadão consciente de seus deveres e direitos.

Avaliação para alguns pensadores:

Um processo pelo qual se procura identificar, aferir, investigar e analisar as modificações do comportamento e rendimento do aluno, do educador, do sistema, confirmando se a construção do conhecimento se processou, seja este teórico (mental) ou prático. (SANT’ANNA, 1998).

Refletir é também avaliar, e avaliar é também planejar, estabelecer objetivos etc. Daí os critérios de avaliação, que condicionam seus resultados estejam sempre subordinados a finalidades e objetivos previamente estabelecidos para qualquer prática, seja ela educativa, social, política ou outra. (DEMO, 1999).

A avaliação é uma tarefa complexa que não se resume a realização de provas e atribuição de notas. A mensuração apenas proporciona dados que devem ser submetidos a uma apreciação qualitativa. A avaliação, assim, cumpre funções pedagógico-didáticas, de diagnostico e de controle em relação as quais se recorrem a instrumentos de verificação do rendimento escolar. (LIBÂNEO, 1994).

Avaliação é uma didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e aprendizagem. (LIBÂNEO, 2017).

Avaliação e Vestibular:

Podemos pensar então que acostumando os alunos ao modelo de prova para medir seu conhecimento, a saber, horas sentado, em silêncio, escrevendo, lembrando de anos de assuntos e estudos, fazendo isso estamos treinando eles para o vestibular/ENEM, para o futuro, para a vida. Mas isso só continua reproduzindo um pensamento de que o sucesso vem pelo cansaço, pelo esforço excessivo, pelas comparações, pelas notas, estamos romantizando noites mal dormidas, tanto de professores, quanto de alunos.

Ao pensar em avaliação devemos pensar em processos, não em notas, classificações, rótulos. Nós, educadores, estamos em constante avaliação e progresso em nós mesmo, como seres humanos. Sempre acompanhando as mudanças da sociedade, as tecnologias, as mudanças na língua portuguesa. Não é justo jogar uma carga e esperar a resposta que melhor nos agrade, de quem estamos apenas conduzindo a um caminho.

A escola não é esse caminho, ela está apenas para mostrar as direções que existem, e como professores nós não podemos esconder e alienar os alunos do que os espera, mas se começarmos e estimularmos a mudança aqui, acreditando nos sonhos dos alunos, lá na frente serão eles que darão continuidade a essa mudança.

Professores sempre farão parte do mundo, somos nós que formamos médicos, advogados, porteiros, secretárias, professores, artistas. E não é uma prova que nos diz isso, não é o número de alunos que tivemos, ou os que achamos que foram “bem na vida”, é a mudança e influência da educação no mundo, refletido em todas as áreas, que podem mostrar o quão importante foi todo esse processo de anos.

Não lembraremos do nome de todos, nem das notas que tiraram, mas ao encontrar um ex aluno formado, sendo parte fundamental da sociedade, como nós, isso que ficará e valerá a pena.

10580cookie-checkPedagogia avaliativa: não há provas que só um método seja eficiente.
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